Impacto da Inteligência Artificial em estudantes entre 12 e 18 anos: resultados e implicações

A inteligência artificial (IA) está a transformar a educação, com impactos profundos nos estudantes entre os 12 e os 18 anos, uma faixa etária que, em Portugal, abrange o ensino básico e o secundário. Estes jovens estão numa fase crucial de desenvolvimento pessoal e académico, onde aprendem as bases de competências académicas, sociais e emocionais que definirão o seu futuro. A IA oferece ferramentas inovadoras que personalizam a aprendizagem e preparam para um mundo digital, mas também levanta desafios éticos, sociais e pedagógicos. Este artigo explora os resultados concretos do uso da IA por adolescentes, com base em estudos de fontes europeias, norte-americanas e australianas, destacando benefícios, riscos, perceções dos estudantes e professores, e recomendações para uma integração responsável.

Uso atual da IA pelos adolescentes

Como temo vindo a abordar, os adolescentes estão a adotar a IA de forma significativa, embora com variações na frequência e propósito. Um relatório da Harvard Graduate School of Education revela que 50% dos jovens entre 14 e 22 anos já utilizaram IA generativa, mas apenas 4% o fazem diariamente. Os usos mais comuns incluem obter informações (53%) e brainstorm (51%), com jovens negros e latinos a mostrarem maior propensão para a sua utilização. Academicamente, a IA é usada para apoio nos deveres de casa e tarefas criativas, sendo vista como uma "abordagem moderna à aprendizagem". Criativamente, 31% dos adolescentes utilizam IA para criar imagens, 16% para sons/música e 15% para programar.

Uma pesquisa do Pew Research Center indica que, entre os adolescentes familiarizados com o ChatGPT, 19% o utilizaram para trabalhos escolares, com maior prevalência nos anos finais do secundário (24% nos 11.º e 12.º anos, 17% nos 9.º e 10.º anos, e 12% nos 7.º e 8.º anos). Quanto à aceitabilidade, 69% consideram apropriado usar o ChatGPT para pesquisar novos tópicos, 39% para resolver problemas de matemática e 20% para escrever redações, refletindo uma aceitação seletiva consoante a tarefa.

 

Benefícios da IA na educação dos adolescentes

A IA oferece benefícios mensuráveis para os estudantes entre os 12 e os 18 anos, especialmente na personalização da aprendizagem e na preparação para o futuro. Vamos ver como:

Aprendizagem personalizada

Ferramentas de IA, como tutores virtuais e plataformas adaptativas, ajustam conteúdos ao ritmo e necessidades de cada aluno, promovendo maior envolvimento e compreensão. Um artigo da eSchool News destaca que a personalização melhora a compreensão e o engajamento, permitindo que os estudantes dominem conceitos antes de avançar. Um estudo da MDPI com estudantes universitários, que pode ser parcialmente aplicável a adolescentes, revelou que 80% consideram que a IA enriquece a experiência educativa, e 82,4% acreditam que melhora o desempenho académico, especialmente em exames e projetos.

Suporte em tempo real

Tutores virtuais alimentados por IA oferecem feedback imediato, promovendo a autonomia e o pensamento crítico. Estas ferramentas são particularmente úteis para adolescentes que enfrentam desafios em disciplinas como matemática ou ciências, permitindo-lhes aprender ao seu próprio ritmo. A eSchool News sublinha que este suporte fomenta competências essenciais para o mercado de trabalho digital.

Preparação para o futuro

A exposição à IA prepara os adolescentes para um mundo cada vez mais tecnológico. A criação de conteúdos impulsionada por IA, como simulações e laboratórios virtuais, torna a aprendizagem mais imersiva e relevante. Segundo a Harvard Graduate School of Education, o uso criativo da IA (ex. a criação de imagens ou mesmo de código!) desenvolve competências digitais que serão cruciais no futuro.

Eficiência na aprendizagem

A IA aumenta a eficiência, economizando tempo e facilitando o acesso a recursos. O estudo da MDPI indica que 83,5% dos estudantes acreditam que a IA melhora a eficiência da aprendizagem, permitindo-lhes focar-se em áreas de maior dificuldade.

 

Desafios e riscos da IA

Apesar dos benefícios, a IA apresenta desafios significativos que podem impactar negativamente os adolescentes. Abordemos agora esse lado da moeda:

Privacidade de dados

As ferramentas de IA requerem grandes quantidades de dados pessoais, levantando preocupações sobre privacidade. Um estudo da University College London alerta que sistemas mal regulados podem expor informações sensíveis, exigindo regulamentações robustas como o RGPD na Europa.

Dependência excessiva e pensamento (a)crítico

A dependência excessiva da IA pode comprometer o desenvolvimento do pensamento crítico. Um artigo da Smart Learning Environments sugere que a aceitação acrítica de recomendações de IA pode levar a erros em tarefas académicas, afetando competências como tomada de decisão e raciocínio analítico. O estudo da MDPI aponta que 16,5% dos estudantes temem o impacto da IA no pensamento crítico.

Impacto social e emocional

O tempo excessivo em ecrãs, que ultrapassa 8 horas diárias para entretenimento, segundo o Center for American Progress, pode reduzir interações sociais e atividades físicas, essenciais para o desenvolvimento dos adolescentes. A IA também pode facilitar comportamentos negativos, como bullying ou desinformação através de deep fakes, conforme apontado pela Harvard Graduate School of Education.

Percepções dos Estudantes

Os adolescentes têm uma visão ambivalente sobre a IA. Segundo a Harvard Graduate School of Education, 41% acreditam que a IA terá impactos positivos e negativos nos próximos 10 anos. No entanto, jovens LGBTQ+ são mais céticos, com 28% a preverem impactos predominantemente negativos, em comparação com 17% dos adolescentes cisgénero/heterossexuais. As principais preocupações incluem privacidade, impacto no mercado de trabalho (especialmente em áreas criativas), desinformação e manipulação de conteúdos.

Perspetivas dos Professores

Os professores mostram-se divididos quanto ao impacto da IA. Uma pesquisa do Pew Research Center revela que 25% dos professores norte-americanos acreditam que as ferramentas de IA causam mais mal do que bem na educação K-12, com professores do ensino secundário a expressarem maior ceticismo (35%) em comparação com os do ensino fundamental (24%) e básico (19%). Menos de 10% em todos os níveis veem mais benefícios do que riscos, e 47% dos professores do ensino básico mostram-se incertos, refletindo a necessidade de maior formação e orientação.

 

Recomendações para uma Integração Responsável

Para maximizar os benefícios da IA e mitigar os riscos, é essencial adotar uma abordagem equilibrada:

  1. Formação de Professores: Investir em programas de capacitação, como os oferecidos pela University of Edinburgh, para que os professores utilizem a IA de forma eficaz e ética.

  2. Proteção de Dados: Implementar regulamentações rigorosas, como o RGPD, para garantir a segurança das informações dos estudantes.

  3. Equidade no Acesso: Desenvolver políticas públicas que forneçam dispositivos e acesso à internet a todos os estudantes, inspirando-se em iniciativas como o Digital Boost do Reino Unido.

  4. Educação Ética: Ensinar os adolescentes a usar a IA de forma crítica, verificando informações e evitando dependência excessiva.

  5. Equilíbrio Social: Garantir que a IA complemente, e não substitua, interações humanas, promovendo atividades colaborativas e tempo para atividades físicas.

Impacto da IA nos jovens

Quadro Descritivo - Uso IA na população Juvenil

Conclusão

A inteligência artificial está a moldar a educação dos adolescentes entre os 12 e os 18 anos, oferecendo benefícios como aprendizagem personalizada, maior eficiência e preparação para o futuro digital. No entanto, os desafios, incluindo privacidade de dados, dependência excessiva e desigualdades de acesso, exigem uma abordagem cuidadosa. As perceções mistas dos estudantes e o ceticismo de alguns professores sublinham a necessidade de integrar a IA de forma ética e inclusiva. Com políticas adequadas, formação de professores e educação sobre o uso responsável, a IA pode tornar-se uma aliada poderosa na educação, apoiando o desenvolvimento académico e social dos jovens.

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